quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A um amor (In) adiado

 A orquestra singular e singela já ocupa o seu sacrossanto lugar.

A ampla sala está em tons de lusco-fusco, apenas e só, um foco de luz ao centro.

Avançamos, solenemente, passo a passo, para os braços um do outro... Silêncio! Caros ausentes Senhores e Senhoras, que os amantes vão dançar!

Para a ocasião, vestimos o corpo e a alma coração de forma solene. É aqui e agora! Encostamos os corpos, agarro-te a cintura e seguro a tua gentil e delicada mão… eis o momento!

 Olhos nos olhos, e firmes no amor, assim foi, assim é, assim será! Súbito, a orquestra começa os primeiros acordes a tocar.

Suave e primeiramente começamos a deslizar, para depois rodopiar, dançamos e de novo rodopiamos, rodamos, mão na mão, coração com coração, olhos nos olhos, sem pestanejar, mais do que dançar isto é amor, é amar…  tudo tão terno, tão firme, bela é esta dança do nosso contentamento.

Lábios cerrados, e neste cúmplice silêncio, sabemos que é mesmo mais que uma dança, é uma “epifania”, o “Kronos”, e o circunstancialismo a dizer: - É o tempo, o vosso tempo de amar!

 A música, languida, mas não lamechas, parece deliciosamente eterna, toca em “loop”, toca e toca, sem retoques, sempre afinada e sem parar.

Porque almas gêmeas sempre fomos, aceleram-se, em uníssono, as nossas almas corações, porém, ainda que a líbido arda em flamejantes chamas, saboreamos cada passo, cada volta, envolta em desejo, esse corpóreo sentimento.

 Até que por fim, embalados pela música, e impulsionados pela dança, os nossos lábios sedentos e já muito molhados, num estonteantemente esperado e quente beijo, tocam-se…

Há uma sequiosa sede de beijos, desses beijos dos amantes reencontrados, enquanto o agora (in) presente Cumpridor de Sonhos apregoa bem alto: - É beijar senhores, é beijar…

Atenta, a orquestra singular e singela, de mansinho a música abranda, e qual filme de amor, com final feliz, seguras o lufado e airoso vestido, e levas-me, em corrida, p’lo salão, pela mão, rumo à vida, porque essa coisa de ser feliz, para nós, meu único, primeiro e doce amor, já é mais do que tempo.

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