sexta-feira, 12 de setembro de 2014

EM PALCO, A NUDEZ DA ALMA HUMANA!



Encontro-me, solitariamente bem desacompanhado, no mais barroco zingamocho do último acto de uma teatral morte, que para uns é algo de belo, a “tesão” sentida e vivida de ver alguém soltar o seu postremo suspiro.

Para outros dos presentes, porém, é assistir ao medonho, ao grotesco, ao inaceitável, a um espectáculo… um espectáculo proibido, mas onde, na clandestinidade burlesca da arte, onde o já mais do que morto actor, mas por ora vivo, deu o seu consentimento!
Batem fortes as pancadas de Molière, “fooortessss” e prolongadas no seu “ecoooo”, mas mais forte bate o meu/seu coração, não sei se de medo? Ou se de excitação?

Em palco, A Nudez Da Alma Humana!
É teatro, mas é também, em directo e ao vivo, a morte de uma vida viva!
A Nudez Da Alma Humana, em palco, é a única personagem, que pela história e a falsa moral é aceite, e pelos presentes, permitida!

Aproxima-se o Helénico Clímax, divergente nas suas sensações!
A morte em palco, da Nudez Da Alma Humana, causa, entre o bem-querido público, calor nuns e noutros frios, estômagos encapelados e intestinos flatulentos, e das suas bocas, cheiros velhos e bafios, tal como a sala, com os seus mil e um objectos não ligados, um mar de contradições!

No palco do escondido e velho teatro, repito, apenas a Nudez Da Alma Humana!
Uma alma antes baptizada, mas no presente sem nome! Indigente, no limbo, no nada, volateia, flutua…
Uma alma indefinida, que tanto pode ser a alma de ninguém, daquele outro ali, a minha, ou a TUA!
“Aegrotus animus! Absens corpore!” (Mente doente! Corpo Ausente!),exposto despido para o acto final!
A figura distante, em palco, da Nudez Da Alma Humana, lega uma visão, aos olhos dos pagantes “voyeurs”, uma visão débil, muito débil e desapartada deles próprios: (le présentateur) - e turva, senhores e senhoras…., oculta por uma mágica névoa de Paúl, apenas e em especial para si, para cada um de vós, desse lado, bem longe da tragédia que se dará aqui!

Pré-epílogo….
le présentateur: por uma simples razão, todos querem ver, em palco, a morte da Nudez Da Alma Humana, mas não se querem aperceber, de todo, se a Alma Humana que em palco morre, e a de cada um dos presentes! A minha! Ou a tua!

No palco, a Nudez Da Alma Humana…

… passaram-se segundos do fim das pancadas de Molière, a luz baixou até ao ilusório, a par de uma mágica névoa de Paul, o silêncio tomou conta da sala… o ranger da corda, um corpo a balançar, não fala, não grita, não pede ajuda, um artista da morte tem de fazer o que tem de fazer, mas de boca amordaçada claro está, para o caso de ter a veleidade de se arrepender…

…pára por fim o balouçar, ensurdece-nos um silêncio alegremente sepulcral, os olhos esbugalhados espreitam por entre a névoa, à procura da confirmação, corta-se a corda que suspende a Nudez Da Alma Humana … cai um corpo, em estrondo seco, no chão, bem como o pano do velho palco… alguém grita: “il est mort! Décédé! Pleurer, rire ou chanter!” (É morta! Morreu! Chorai, ri ou cantai!)

… o público ergue-se, ouve-se aqui e além: - que bela morte! Para outros, uma aberração, mas a verdade é que a sala em pé grita, canta e ouve-se, por fim, uma grande ovação!

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

(S) EM NADA!


Sinto-me vazio… despido… assim é, tanto por dentro, na alma, como por fora, na pele, animal ferido, acabado, perdido.

Sinto-me em morte, homem fraco, não forte… cão raivoso, contudo, animal findo, bússola sem norte, com um destino de merda, tão mal, que nem ela me quer… a Morte…

O “EU” sem rumo, sem fado (coisa que todo o VENTRE AO LÉU) tem!

O “EU” sem sorte… mesmo vivo, em vazio sentido, é uma vida não vivida, logo, mentira; sou tão mediocridade, mas tão, que de mim, até se repugna a figura que carrega a foice… a morte!

Sinto-me fraco, enfadado, uma sílaba não contada, uma estrela (de) cadente por ninguém vista, palavra saltada ignorada, e se não te lêem, não tens nome, se não tens nome não existes… mesmo que, prioristicamente, até sejas uma realidade, mas que por ninguém és pronunciada… que porra! Como é possível ser-se o nada do nada? Não pode! Creio eu! Pois ser o nada do nada… já é ser-se qualquer coisa…

Quanto mais penso, ou penso que penso, mais perdido, aflito, em sobressalto embruxado de alma desmaiada, de um (não) coração constrito, para dentro de um “Eu” que parece que não existe…. eu grito! Grito! Grito! GRIto! GRITo e GRITO, e não (me) ouço nada, em nada! Mas acredito que grito, porque ao ser o nada do nada, “raios me partam” se não existindo, eu de facto EXISTO!