segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

5emfuga.com

Há um bravo e destemido punhado de gente, neste nosso cada vez mais pequeno mundo,

que sempre que pode, está em FUGA, num pendular ir e vir, sempre com um pé no momento de mais uma chegada ou de mais uma partida.

Mas não fogem de nada, tão pouco de ninguém, são viagens, por aqui e por acolá, que os levam a conhecerem-se por dentro de uma forma mais intensa, em modo: “mais fundo”.

E não importa se a fuga é para fora, ou cá dentro, se a fuga é uma “fuga longa” ou uma “fuga de fugida”.

 

Sim, são diferentes da maioria de nó. As fugas são, também, a sua “alma mater”, que as enriquece como pessoas, não são uma fuga pela fuga, é algo mais profundo.

As suas vidas estão pejadas de momentos, e esses momentos pejados de todos os CINCO sentidos, e nelas CINCO, os CINCO sentidos ficam, de forma indelével, tatuados para a vida.

Descobrem, em lugares simples e insuspeitos, isto ao primeiro olhar, pessoas, coisas e paisagens inolvidáveis, deslumbrantemente sãs, neste mundo cada vez mais humanamente inóspito e esteticamente imundo.

É gente como a gente, gente, gente, como nós, com uma particular diferença, é gente, gente mais livre, não é gente, gente, que se esconde e vive na sua “concha protetora” tolhida.

 

Eu sei de 5emfuga, que nas suas fugas encontram os sempre tão necessários, numa família, momentos de união, e partilham as suas fugas, nem egoístas eles são, basta “GOOGLAR”, 5emfuga, e eles lá estão… não confundam: 5emfuga, eu não confundo.

São 5emfuga que vivem de coração aberto, prontos para “pegar e andar”, seja para longe ou perto, não vivem na sombra, vivem à vista de todos, à luz do dia, uma vida às claras, “nunca, jamais e em tempo algum”, uma vida selada, fechada, trancada ou escondida.

Nas suas cabeças há espaço para um GPS, até estou em acreditar que as suas sinapses elétricas, quando faíscam, forma “inside mind” um Mapa-Mundo.

Acredito que serão muitas as razões das fugas dos 5emfuga, mas afianço que uma delas será porque sabem que a vida, por mais longa que possa ser, é sempre breve, e que por isso, mas não só, deve e tem de ser, neste caso em fuga, bem vivida.

 

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João Ramos

13 de dezembro de 2020 – 22H58


quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Ou tudo, ou nada! Assim te quero Ó AMOR!

Ou tudo, ou nada! Assim te quero Ó AMOR!

Sim, não te quero ou desejo em suaves “prestações”, “grão a grão” ou aos pedaços.

Sim! Quero-te por inteiro! É muito? Dizes tu, Ó AMOR? Pode ser que seja, mas disso não tenho nem receio, nem temor.

Quero-me inundado de amor, Ó AMOR. Quero-me perdidamente perdido em mui doces e molhados beijos, e em intermináveis fortes abraços.

 

Ou tudo, ou nada! Assim te sinto Ó AMOR!

Sabes!? Ao teu lado, a soma de todos os momentos, mesmo bem somados, me parecem efémeros, escassos,

todo o meu eu quer sempre mais e mais, e com mais gana e desejo de ti… ai amor… Ó AMOR, és a fogueira que que arde, sem mácula, no meu peito e me enche de força e vigor.

Faz de mim o teu primeiro e único AMANTE, Ó AMOR, meu lindo amor! Que sejamos um só, na alegria e na tristeza, nas saboridas vitórias ou nos devastadores fracassos!

 

Ou tudo, ou nada! Assim te quero e sinto, Ó AMOR, meu lindo amor.

Tu, amor, Ó AMOR, moras nas formosas formas de uma mulher que amo, e de quem anseio eu escutar, em breve, em direção a mim, os seus passos.

Viver-te a ti, Ó AMOR, é vivê-la a ela, vós coexistis, e nessa união, vejo um amor de rara mas singela beleza, e um tão singular e humilde esplendor.

Ou tudo, ou nada! Ó AMOR, porque se não for para ser um amor completo, rejeito os despojos titubeantes de um simples “gostar”, qua soam a momentos de não amor, Ó AMOR, mas sim a pobres e miméticos atos entre dois seres, que se condenam a longos fracassos.

 

João Ramos

17/12/2020

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Encurralado no TEMPO


Fui, sem o saber, encurralado no TEMPO, nesse TEMPO que não sei quanto TEMPO vai durar, e com que tempo, do TEMPO, me foi colocado na algibeira para por cá andar.

Mas todo o tempo, do TEMPO, que passo sem o teu amor, sem dizer o quanto te amo e sem o teu abraço,

é mais pesado e penoso do que esta coisa que agora carrego em mim, que me tolhe a alma. Lá silenciosa ela é, mas sabe por o palato de qualquer pessoa a amargar, de parecer que o mundo se entropia, e ficamos sem onde nos agarrar.

Tal como o AMOR, um grande AMOR, “ela” também não tem cura, apenas entra em remissão, mas um dia pode vir, ou pode ir e não voltar, ou voltar nunca mais… mas não se enganem, pois tal como o AMOR, um grande AMOR, embora queda e muda, está lá, escondida num qualquer e interior nosso espaço.

 De repente, estou assim, encurralado no Tempo, e percebo que uma vida toda, ou uma vida como a de Matusalém, é sempre curta para fazer seja o que for… mas quando pensamos no amor, AMOR, e o quanto podíamos ainda mais amar… é como “morrer na praia”, ou ficar algures entre o último pedaço de terra e a primeira espuma da água que anuncia o imenso mar.

Passa-se a viver a vida em duodécimos, a prestações, com o irrequieto, irritante e inquietante som do Metrómano a marcar, sobre a minha vida, o seu ritmo, o seu compasso.

Agora já não conto os anos, os meses, tão pouco as semanas, penso apenas no hoje, porque “Hoje é Hoje”, amanhã? Bom, amanhã logo se verá! É viver às cegas, com uma venda nos olhos, tatear tonto aos apalpões, e com um garrote… que tanto pode salvar uma vida, como a pode tirar.
Até que ponto somos donos de nós? Não será uma ilusão!? Talvez! Por certo que sim!  Seremos senhores de decidir quando e como chegamos? E quando e como partimos? Não sei! Não creio! Aliás, cada vez sei menos, e menos certezas tenho acerca de tudo. A cada dia que passa, tudo está, aos olhos de minh’alma, muito torpe e baço!

 

E volto a pensar no tempo, naquele TEMPO que “pergunta ao TEMPO quanto tempo é que o TEMPO tem”, e o TEMPO, como não sabe, não quer ou não pode dar a resposta, acanha-se, esconde-se, envergonha-se de uma vergonha que até o próprio tempo do TODO PODEROSO  TEMPO, se retorce e as suas temporais faces de tempo do TEMPO, podemos ver corar.

E eis que volto a pensar, por causa do tempo, ou da escassez do mesmo, no AMOR. Não num só tipo de amor, mas em todos os tipos e formas de AMOR, o que me leva a pensar que se achava que tinha sido generoso a dar amor!? A Amar!? Agora sei que sovina fui nessa dádiva. O que dei, aos meus olhos, hoje, fede a pouco, tresanda a escasso.

Não creio, porém, que tenha sido por mal, leviana má fé, ou até por falta de empenho e dedicação, acredito sim que a vida, VIDA, por mais longa que seja, foi, é, e sempre será curta de mais para se conferir real valor ao amor e, para sem receios, a quem se ama, com esse amor AMOR, bafejar.

Tic-Tac, Tic-Tac. É aquele som mais calado que um mudo, que ressoa em nós, quando tomamos consciência de que não vamos ficar para sempre, como semente, talvez possamos passar a viver a vida, VIDA, com mais VIDA, e com o garrote, que tanto pode salvar uma vida, como a pode tirar, menos apertado, mais vida, VIDA, mais laço.

 Queria-te aqui, meu primeiro e único amor. Pelo amor e para fazeres a tua magia, e assim, este bater forte de medo que tenho no meu coração, conseguires acalmar, e quiçá, entre beijos, mimos e muitos abraços, possa por momentos ser esquecido ou até mesmo passar.

Queria o teu aconchego, poder ser sem medo ou vergonha, e em simultâneo, Homem/Menino, receoso e trémulo, mas ficar calmo e seguro, deste mar de medo agitado, em ti, no teu abraço.

Não desisti, nem “deitei a toalha ao chão”, penso no tempo, TEMPO, e viver o dia-a-dia. Continuo a ter Fé, e, quando à noite me deito, a pensar na vida, VIDA, gosto de sobre ela SONHAR,

porque dure a minha vida o que durar, de antes de anteontem, em diante, quero sentir que cada dia, do meu dia, foi um dia de AMOR, e não de nula pasmaceira, ou um fracasso!

 

02H24

03/12/2020


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Um lugar bom para albergar (o teu) um coração


“Cada um é como cada qual e cada qual […]” é à sua maneira.

O mesmo se pode dizer sobre o que para cada um o leva a alcançar a felicidade… a ser feliz.

Calma! A felicidade, esse estar feliz, é como a História, parafraseando Lucien Febvre: “É filha do seu tempo.”. E o que importa é que nesse tempo, a felicidade seja sentida e verdadeira.

Que seja felicidade do “tipo” felicidade, “tipo” … equilibrada, 50/50, tão congruente como uma perfeita bissetriz.

 

Sei que tens um grande, grande coração, daqueles, sabes, que não cabe num pequeno bolso ou algibeira,

tem de ser assim num espaço muito, mas muito maior, ou “mais grande”, como dizem as crianças… sabes, até já vi alguns projetos e ideias, estou a verificar cada um ponto por ponto, matriz por matriz.

Quero que esse tão grande e bom coração encaixe na perfeição onde um coração, assim, como o teu, se deve guardar, um lugar de encaixe fácil, sem ter de ser à força e com a ajuda de uma calçadeira.

Caso contrário, se não conseguir arranjar apropriado refúgio para esse sensorial coração, ficaria de rastos, o contrário de felicidade… sentir-me-ia muito infeliz.

 

Sabes, não sou moço de posses ou abastado, mas já falei com os melhores engenheiros que conheço, eu cá sou assim, quero para o teu sensitivo coração, uma coisa fixe pá, como tu, assim uma coisa mesmo porreira.

A malta conhecida, depois de encontrado o espaço, criado o espaço, tem de olhar e comparar a “coisa”, olhar para o teu coração nobre coração e dizer: - Ena pá, nem largo, nem justo, atão não é que está perfeito… o espaço para guardar o coração… tudo condiz!

Haverei de encontrar tal espaço, coisa ou lugar, seja a bem, ou a bem, a mal nunca será, nem que recorra a “Wiccas”, oráculos, bolas de cristal, ou que mande vir das américas um Benzedeira,

e eu sei que vou conseguir, melhor, vamos conseguir, vai dar certo, e se não for por margem folgada, que seja por uma” unha negra”, por “um triz”. Como amigo, o que eu quero é que sejas tão somente… feliz!

 

Para este inaudito projeto, tenho-te andando a tirar as medidas ao coração, “plus”, intensidade elétrica que este emana de felicidade, e acredita, olhar o coração de outro alguém e avaliar a intensidade da sua felicidade, não é brincadeira,

até porque mexer com o coração de alguém é coisa mesmo muito séria, e olha que nada que vi, ouvi ou li, o desdiz.

Tu mereces, e na verdade mal te conheço… apenas o teu toque, e os teus olhos, mas que quando em simultâneo estão na minha presença acalmam-me, e enchem-me a alma todinha, plena, por inteira.

Nesses momentos és tudo, és grande, és a minha heroína, pois trazes paz à vida de alguém, que por razões da existência, se sente agora tão pequeno e com medo de sorrir ou até algo mais arrojado, como sentir aquela alegria de quando se era petiz.

 

Sabes, gosto mesmo muito de ti, e na fronteira de uma quase funcional bipolaridade, és a minha tábua de salvação, um dos meus dois Anjos da Guarda, um baluarte, a última defesa, a última e mais forte charneira.

Brota de ti uma afeição especial e que sinto como pura, como pura e especial, para quem tem sede (medo), é como a água que brota cristalina de um chafariz.

Onde guardar alguém que no silêncio dos olhares é Estrela do Norte, Astrolábio, Bússola, GPS, sedativo são e natural, amiga em silêncio subentendida e até conselheira?

Pois é, sei bem onde guardar esse teu magnífico e por explorar coração, cara amiga, e que gostava de ver pleno de felicidade… acabo de te arranjar um T0, mobilado, no meu peito, na minha alma/coração, porque a vida não tem de ser sempre um solitário, pesado fardo fado, que aqui resguardados, o teu coração e felicidade sejam, doravante, um dos meus Anjos, uma poderosa e libertadora força motriz.

 João Ramos

00H58

02/12/2020

 

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

A História de Catarina, “La Prima Ballerina”

A medo, e com algum custo, devidamente acompanhada por uma sonora solidão,

mas movida pela força maior que é, indubitavelmente, e sem sobra de dúvida o SONHO,

subo, ainda que insegura, os degraus do centenário envelhecido e nobre salão.

Numa mão, seguro uns velhos sapatos de pontas, de um rosa já desbotado e com a outra, agarro forte o agastado corrimão mono.

 

Ainda a medo, e de coração acelerado, abro as portas do meu novo palco. Ei-la, a sala!

E olha, ali, o grande espelho, a barra…. e um solitariamente nobre piano, o coração do amplo espaço… e aquele cheiro… é tanta e tanta a minha emoção

Numa das calejadas paredes, um retorcido e plácido retrato, onde leio de soslaio: GIUSEPPINA BOZZACCHI. Bailarina… pelo menos, suponho

Súbito, um delicado toque no meu ombro acorda-me para a realidade. Ah! É o velho dono da já também velha esbelta sala, e é também o velho que toca o solitário e nobre piano, pois então!

 

Sorri com candura, ele, circunspecto, aponta para os velhos sapatos de pontas, de um rosa já desbotado, e “presto” avança trôpego para o piano, apoiado num tosco, mas nobre bordão.

Sorri eu, novamente, agora trémula, mas logo ligeira, e os velhos sapatos de pontas, de um rosa já desbotado são logo por mim, aprendiz, calçados, é uma ordem desejada à qual não me oponho.

A luz, bem, a luz é fraca, mas quanto baste, provem de uma tão romântica clarabóia, penso eu… e pensei, também: - Agora é que é! Vá, avança! Assim gritou em silêncio o meu coração.

“Allegro ma non troppo”, soam os primeiros gemidos do piano, que rápido dão forma a uma bela melodia, tão sagrada, com tão celestiais notas, como que feitas para uma sonora oração.

 

Menina! Exclamou o Velho. - Aqui somos clássicos, aqui “notre pratique est seulement École Française! Pelo amor puro à dança, que é um amor como o definia Platão,

onde, como a menina saberá, não interessa a coisa como objeto, o material, mas apenas e só a virtude, é um amor assim, pelo Ballet, que eu hoje, agora e aqui lhe proponho!

A melodia, interpolada com o discurso, no ar pairava, e eu disse, acenando: - Sim! Enquanto uma estranha magia, conta de mim do meu corpo e alma tomava. E o coração, num forte “catrapum, pim, pam pum, já todo ele dançava… - Menina! Não há dança sem aquecimento, é a minha primeira lição!

As ordens de um Mestre são isso mesmo, ordens de um Mestre, há que obedecer e fazer, por mais que nos pareça aborrecido ou enfadonho.

  

No entretanto, a música parou, e o Velho, agarrado ao seu tosco, mas nobre bordão, pegou numa linda caixa em forma de coração

-Abra! E eu abri.  – Não é uma prenda menina, é muito mais, é mais uma parte do todo que um dia espera vir a ser. Assim me falou, o Velho, pela primeira e última vez, com um ar sereno e risonho.

A caixa, já baça, e em forma de coração, deixava ler: - De mim para ti, minha “Prima Bellerina”. Estremeci, e a caixa abri, num misto de curiosidade juvenil e emoção.

Vislumbrei um bilhete mais íntimo, em tons de rosa, em que li: - Minha “Prima Ballerina”, e meu “primo e unico amore”, e lá dentro, ainda, um “Tutu”, olhei o Velho, e tal como ele, lágrimas muitas verti, e agradeci, com uma solene “reverence”, nada parecia real, pareciam vidas cortadas, e agora unidas do nada, como vindas de um “entre sonhos”.

 

Foram muitos dias, uns mais difíceis, outros menos, mas sempre bonitos, eramos nós, o Velho e o nobre piano, eu, os velhos sapatos de pontas, de um rosa já desbotado e o “tutu”, um desiderato nos unia, havia uma mútua, silenciosa e consentida co-adoção.

Foram dia de muitos “Grand Jeté”, um ou dois “Plié”. - Força menina, dê-me um “Grande Plíe” e termine com um “Frappé”. Foram tantas e tão esforçadas sequências e posições, mas assim me preparei para o papel maior do Lago dos Cisnes, Odette. – Estão aí as audições. Disse-me, e senti uma ânsia e um medo muito medo e muito medonho.

No dia e hora marcada, de charrete, em silêncio, fomos ambos à audição. Chegámos, saímos, o Velho apoiou-se no seu tosco, mas nobre bordão, e do lado oposto, apertou-me forte e com amor a minha mão.

 

Chamam pelo meu nome, sorridente, e em reforço, apresentei-me: - Catarina, “Prima Ballerina”. E todos sorriram… pareceu-me ouvir a voz, vinda do exterior, do meu Velho a dizer: - É agora, dança e dança como se nunca tivesse havido um ontem, houvesse um hoje ou pudesse vir a haver um amanhã. Mentalmente respondi: - Sim meu querido Velho, tem razão… tem razão!

A música arrancou, libertei-me, senti-me a flutuar, vi as notas da melodia, juro, comigo a dançar, e todas as antepassadas “Primas Ballerinas” comigo a rodopiar, e por fim, termino com um “Arabesque”… a gritar por dentro: - É a dançar que bem me sinto, que me liberto e bem me disponho.

Longo foi o tempo de espera, a angústia de nada saber, até que um gentil moço mensageiro tocou à porta, entregou-me um pequeno envelope e o envelope abri… e li: “Mademoiselle Catarina, o papel de Odette do Lago dos Cisnes, é para si. Ballet de l'Opéra de Paris. Ia ser uma “Prima Ballerina”, era verdade, realidade, e não mais um sonho ou ilusão.

Sai a voar, corri escada acima, a levar tão boa nova, abro a porta da sala e dou com um imenso nada, nem o grande espelho, a barra…. ou o solitário, mas nobre piano… terá também o meu Velho, em silêncio, “partido”? Assim, pensei, e hoje, também eu já de idade bem adiantada, aqui nesta cama deitada, com a caixa baça, em forma de coração ao peito agarrada, acredito que o meu Mestre, o meu Velho, sem que ninguém soubesse, era um anjo do meu sonho e terminada a missão, ao céu subiu, assim acredito, assim suponho

 

“A verdadeira riqueza não está em cumprir todos os sonhos, por vezes basta alcançar apenas um só e por inteiro, e devemos escolher aquele que no nosso coração e na nossa alma, achamos ser o sonho dos sonhos, de todos, o sonho mais apetecido e verdadeiro.”

Há sempre um Anjo que nos acompanha.

 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

No amor, a omissão é traição

A noite cai, e de joelhos, em fraca figura, muito prostrado estou, é trágico, estou sem ti,

sem a tua hercúlea força, que sempre me fez, uma e outra vez, reerguer mais forte e seguro…

…depois, perdíamo-nos em longas conversas, em apertados abraços, doces beijos, sorrisos lindos e luzentes sem fim…

Mas hoje não, nesta noite, a noite de hoje não, pois enquanto cai a noite, estou cansado, caído e prostrado debaixo dos escombros de um grande e pesado muro…

 

É pesada a herança, é árduo o sentimento de culpa de te ter perdido da forma pueril como te perdi!

Por minha culpa tão grande culpa, pergunto-me, em oração retórica, de como se pode transformar o amor, algo tão claro e belo, em algo tão obscuro?

Porque não sabemos ser humanos, medianos, queremos sempre ser “Ícaro” e tocar o sol… pensei não precisar assim tanto de ti, e assim me iludi, e assim cai.

E hoje, com todo este peso nos ombros, com este sentimento de culpa, pela tua legitima ausência, sei que é melhor ser D. Quixote sonhador, do que sentimentalmente imaturo.

 

Partiste, não tanto pelo que aos teus olhos vilmente de errado fiz, mas sim pelo que deliberadamente omiti.

A omissão é por vezes, muitas vezes, a maior parte das vezes, a mais dolorosa e grande traição, um muro que obstrói e destrói até o amor mais resiliente e puro…

E as Tágide, em coro, umas a rir e outras a carpir, entoam…: - O que semeie foi o que colhi…o que semeie foi o que colhi…

Tendes razão, no que bradais Tágides malditas: -Quem semeia ventos, colhe tempestades!  É esse o meu pensamento, prostrado debaixo dos escombros deste pesado muro, onde apregoo aos sete ventos a morte de um amor, e em simultâneo me esconjuro.

 

Carta de Amor Quarta

 De Dentro de mim, 23 de novembro de 1915

 Olá meu Amor.

Que esta missiva te encontre em paz e na paz que por aqui é escasso bem.

Os dias de frio estão de volta, os dias de chuva também, e com a chuva, nas estreitas trincheiras, enlameamo-nos por fora, e mais triste, meu amor, enlameamo-nos, também, e quiçá mais, por dentro, e dentro de mim, tenho mais lama que esperança, esperança de te voltar a abraçar, de passear de mão dada contigo no Rossio lá da nossa terra, de ouvir as horas toadas pelo sino da igreja onde sonho, um dia, quando esta guerra sem sentido terminar, casar contigo, de uma forma ou de outra, sei que o meu regresso acabara por passar pela capela da nossa terra… para agradecer pela vida, para dizer que sim, no altar, ou num caixão de pinho, sabemos que voltamos, mas não como voltamos.

 

Desculpa a tristeza, mas a chuva, a lama e o cinzento céu fazem de mim “filósofo”, mas sei que me conheces, e sabes que sou assim, cubro todas as possibilidades, exceto uma vez, de todas as filhas de tua mãe, não hesitei em entregar o meu coração apenas e só a ti…

Sabes, estava aqui a pensar que apenas quero ter contigo um amor simples, sabes, assim… nem muito grande, nem muito pequeno, apenas um amor, e o amor, para ser amor, deve ser simples, simples é bom, não achas meu amor?

 Sim, serei “Naif” (aprendi esta palavra com o tenente, é educado e de boas famílias, tens estudos, quer dizer inocente, puro, ele diz que eu sou “Naif”, e sorri, é bom o Tenente, tem bom coração), na forma como tudo faço, inclusive como te amo e vivo, e até como todas as noites, seja à luz de um breve luar, de uma trovoada, ou das constantes explosões das bombas, te escrevo, sim, devo ser “Naif”, pois retiro de coisas más, momentos bons, para te escrever e estar contigo.

Sabes, tenho pena de não haver árvores, gostava de esculpir as nossas inicias e um coração numa delas, para eternizar o nosso amor, sei que seria uma dor para a árvore, mas menor do que aquela que sinto por não te ter, aqui e agora, por quase me estar a esquecer do cheiro do teu cabelo, do toque sedoso da tua pele…

 Sabes, mal tenho lápis e papel, e quase tempo nenhum para escrever, tudo aqui é racionado… tudo, mas mesmo assim, escrevo, ao de leve para poupar no lápis, e letra bem pequena para o papel durar, mas sei que quando o faço, fico outra pessoa, que não o soldado raso, fico de coração cheio, e tão mais humano e sereno, e sabes, meu amor, não tenciono racionar no amor, no meu amor por ti.

Entre o amor à mulher amada, e o ódio ao inimigo, que não tenho, porque alguém ama alguém como eu te amo a ti, numa trincheira do lado de lá, acho que só sinto ódio a quem nos engajou para esta fratricida demanda, pelo ego, tento manter-me o mais humano e lúcido, aqui tudo é veneno, é medo, mas tu és o amor… o fiel da balança… da mina (in)sanidade.

 Tenho de ir, sem ir a lado nenhum, é mais uma força de expressão, do que uma expressão com força…

Meu amor, como te disse no início desta missiva, não quero contigo um amor grande ou pequeno, apenas e só um amor simples, um amor de lume brando e ameno, mas duradoiro.

Se puderes dá novas aos meus, diz-lhes que estou bem, afaga os teus lábios na testa da minha velha mãe, e diz-lhe que estamos a ganhar e que breve regressaremos, que te vá fazendo o enxoval…

 Meu amor, o tempo passa, está a clarear, o Tenente manda colocar as escadas e encaixar as baionetas, o sargento já tem o Caronte apito na mão, tenho de, por agora, e quiçá, mais uma vez, me despedir, não sei se por um agora ou um para sempre, é tempo de colocar a baioneta, subir a tosca escada de madeira e sair a correr pela lama, para morrer ou matar.

Um beijo deste sempre teu, numa trincheira qualquer, longe de ti, longe de casa, mas no teu coração



Tarda o amor

O nosso tão nosso amor, esse que nunca e em momento algum, nos nossos corações, fora, nestes longos anos olvidado. Guardado? Sim? Mas nunca olvidado.

Nada nem ninguém, jamais e em tempo algum, o conseguiu destruir, ou levar ao esquecimento, pois no nosso interior, esse lugar quente e íntimo, ele teimava em viver, em surdina, sim, mas forte teimou em ficar.

Estou em crer que é especialmente especial, este amor, pois já foi muito adiado, e por isso vos digo, que de tão esperado, tem de ser “calientemente” acalentado, de ser um amor ainda mais amado.

Um único desiderato, que não um capricho ou vazio devaneio… quedar-me num mui longo e terno enlace, num forte e sequioso “beijoabraço”.

 

Sabes, o que não foi, já era, e o que passou, passou, hoje, aqui e agora, tudo isso é apenas um longínquo, embora e sem dúvida, um penoso, pela tua ausência, passado.

Uma pausa! Olho-te, e com a voz mais do que embargada, solenemente e de joelhos neste sagrado altar que é agora o chão que pisamos, te rogo:  - Meu primeiro e único, de toda uma vida, amor, vamos, a este sentimento adiado, mais do que nunca, dar-lhe o devido ar e sustento, a dois, eu e tu, dele cuidar.

Que doravante, cada toque seja real, determinado e firme, que cada osculado beijo, o seja de facto sagrado, intensamente intenso, e como dois aprendizes, pelos nossos lábios, corretamente, letra por letra, seja o B.E.I.J.O. soletrado.

Se é para viver, que se viva, e que nessa adiada vida, antes de mais e primeiro que tudo, seja cada milésimo de segundo, para este amor adiado, amar.

 

O teu corpo é todo o meu mundo, o meu lar, e o teu coração… o nosso exíguo, mas aconchegado quarto, onde descansamos, onde adormecemos num abraço terno e apaixonado.

Aconchegamo-nos a nós, somos iguais na carência do amor, deste amor. Temos o corpo nu, e a alma desnudada, apertamos as mãos, num enamorado e sôfrego entrelaçar.

E se o mundo profano me perguntar o que quero, respondo de forma sincera e simples: - Reconstruir o AMOR, o nosso AMOR, que era já quase e só um pálido sonho, sem ar, sem vida, e fazê-lo ao teu lado.

 E a vida, especialmente quando se vislumbra a felicidade própria de quem ama, tem de ser vivida de forma urgente e expedita, pois a desdita, da vida,  é rápida a passar, quando tens amor para receber e amor, muito amor, daquele amor bom, para dar.

 

Por isso, meu primeiro e único amor, vamos fazer o que já tarda, fazermo-nos ao caminho, olhar para o céu, encher o peito de coragem, apertar forte as mãos e AMAR, AMAR e AMAR.

 

 

 

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A um amor (In) adiado

 A orquestra singular e singela já ocupa o seu sacrossanto lugar.

A ampla sala está em tons de lusco-fusco, apenas e só, um foco de luz ao centro.

Avançamos, solenemente, passo a passo, para os braços um do outro... Silêncio! Caros ausentes Senhores e Senhoras, que os amantes vão dançar!

Para a ocasião, vestimos o corpo e a alma coração de forma solene. É aqui e agora! Encostamos os corpos, agarro-te a cintura e seguro a tua gentil e delicada mão… eis o momento!

 Olhos nos olhos, e firmes no amor, assim foi, assim é, assim será! Súbito, a orquestra começa os primeiros acordes a tocar.

Suave e primeiramente começamos a deslizar, para depois rodopiar, dançamos e de novo rodopiamos, rodamos, mão na mão, coração com coração, olhos nos olhos, sem pestanejar, mais do que dançar isto é amor, é amar…  tudo tão terno, tão firme, bela é esta dança do nosso contentamento.

Lábios cerrados, e neste cúmplice silêncio, sabemos que é mesmo mais que uma dança, é uma “epifania”, o “Kronos”, e o circunstancialismo a dizer: - É o tempo, o vosso tempo de amar!

 A música, languida, mas não lamechas, parece deliciosamente eterna, toca em “loop”, toca e toca, sem retoques, sempre afinada e sem parar.

Porque almas gêmeas sempre fomos, aceleram-se, em uníssono, as nossas almas corações, porém, ainda que a líbido arda em flamejantes chamas, saboreamos cada passo, cada volta, envolta em desejo, esse corpóreo sentimento.

 Até que por fim, embalados pela música, e impulsionados pela dança, os nossos lábios sedentos e já muito molhados, num estonteantemente esperado e quente beijo, tocam-se…

Há uma sequiosa sede de beijos, desses beijos dos amantes reencontrados, enquanto o agora (in) presente Cumpridor de Sonhos apregoa bem alto: - É beijar senhores, é beijar…

Atenta, a orquestra singular e singela, de mansinho a música abranda, e qual filme de amor, com final feliz, seguras o lufado e airoso vestido, e levas-me, em corrida, p’lo salão, pela mão, rumo à vida, porque essa coisa de ser feliz, para nós, meu único, primeiro e doce amor, já é mais do que tempo.

domingo, 10 de maio de 2020

Abraça-me!

Abraça-me!
Abraça-me forte, porque é ao teu abraço doce e frágil que eu vou buscar a minha força, uma força não só mais forte, como mais sólida, segura e sentida.

Abraça-me!
Abraça-me forte e sem medos, para que eu perca o medo meu, e que saibas que me sinto, paradoxalmente, frágil, mas forte, ao saber que este amor, que vive no meu coração, é apenas e só, no limite nosso, mas em exclusivo… apenas e só teu!

Abraça-me!
Abraça-me forte, e olha fundo nos olhos meus, e verás o quão frágil sou, e se me olhares ainda mais fundo, encontrarás, estou em crer, uma alma, se não já morta, por certo a desfalecer, a quem, sinto eu, esse teu frágil forte abraço, que te rogo, dará novo ânimo, dará amor, e amor, meu doce amor, é vida!

Abraça-me!
Abraça-me ainda mais forte, e que nos encontremos, alegres, mas serenos, eu, tu… e o amor. Mesmo que o preço a pagar seja para sempre perder o norte, mas, meu doce frágil e forte amor, isso não é nem azar nem sorte, é apenas amor e amor, a brotar gritante em nós… que de forma maviosa, sincera e sentida, a ambos comprometeu!

Abraça-me, abraça-me forte, e que saibas que gostaria de acabar hoje e muitos outros dias, em silêncio, mas mais forte, nesses frágeis fortes braços teus.

10 de maio de 2020

00H25



domingo, 5 de janeiro de 2020

E antão o amor?

Amor, por qual razão me laceras a alma com a tua ausência? Sendo tal, sinónimo da já longa ausência dela…

Desse ser belo, porém, quiçá, sem alma? Que me abandonou, como se não houvera, antes, algum, raios me partam, amor, ou pelo menos apego.

Eu sei que a vida é dia não e dia sim feita de altos e baixos, de paixão e desilusão, nem sempre só feia, nem sempre apenas e só bela…

Sei também, digo eu na minha altivez, que o amor não é sempre só estonteante felicidade, ou, nem sempre, ou para sempre, uma permanente dor.



Ai amor, que nos fazes rir e chora, correr e saltar, querer o sol olhar de frente, e a lua… e a lua? Ah… essa, com a ponta dos dedos tocar…

E no momento seguinte querer cerrar os olhos e, num sonolento sono, com uma dor negra colada à alma, querer, num eterno para sempre, lenta, mas seguramente adormecer.

Confundes-me tu! E tu também ó amor! Se bem que não vos sei, nesta já demasiado longa ausência, diferenciar…

Tu és O AMOR, e o amor ÉS TU! Tu lembras-me O AMOR, e o amor lembra-me que ele, por sinónimo ÉS TU, que de mansinho vieste, e entraste para ficar.



Antão que fazer? Ficar quedo quieto? Como se nada se tivesse acontecido? Como se não houvesse uma saudade que sufoca a alma, que a dilacera?

Mas Antão que fazer? Se quando te foste, se foi, contigo, o amor, aquele amor que nunca antes havia eu experienciado.

Descobri, contigo, pois antão, que o amor existe, que não é apenas uma palavra, um boato, algo inalcançável… uma quimera…

…mas neste momento, só te queria ó AMOR… ó TU, para te poder amar e tão simplesmente sentir-me amado.



João Ramos