A noite cai, e de joelhos, em fraca figura, muito prostrado estou, é trágico, estou sem ti,
sem a tua hercúlea força, que sempre me fez, uma e outra vez, reerguer
mais forte e seguro…
…depois, perdíamo-nos em longas conversas, em apertados abraços, doces
beijos, sorrisos lindos e luzentes sem fim…
Mas hoje não, nesta noite, a noite de hoje não, pois enquanto cai a
noite, estou cansado, caído e prostrado debaixo dos escombros de um grande e pesado
muro…
É pesada a herança, é árduo o sentimento de culpa de te ter perdido da
forma pueril como te perdi!
Por minha culpa tão grande culpa, pergunto-me, em oração retórica, de como
se pode transformar o amor, algo tão claro e belo, em algo tão obscuro?
Porque não sabemos ser humanos, medianos, queremos sempre ser “Ícaro” e
tocar o sol… pensei não precisar assim tanto de ti, e assim me iludi, e assim
cai.
E hoje, com todo este peso nos ombros, com este sentimento de culpa, pela
tua legitima ausência, sei que é melhor ser D. Quixote sonhador, do que
sentimentalmente imaturo.
Partiste, não tanto pelo que aos teus olhos vilmente de errado fiz, mas
sim pelo que deliberadamente omiti.
A omissão é por vezes, muitas vezes, a maior parte das vezes, a mais
dolorosa e grande traição, um muro que obstrói e destrói até o amor mais resiliente
e puro…
E as Tágide, em coro, umas a rir e outras a carpir, entoam…: - O que
semeie foi o que colhi…o que semeie foi o que colhi…
Tendes razão, no que bradais Tágides malditas: -Quem semeia ventos, colhe
tempestades! É esse o meu pensamento, prostrado
debaixo dos escombros deste pesado muro, onde apregoo aos sete ventos a morte de
um amor, e em simultâneo me esconjuro.
A traição é uma lança afiada que abre uma ferida no peito. Dor aguda, penetrante, que nem a insistência do tempo abranda. Se, ao menos, a pudéssemos entender!
ResponderEliminarMas...
Se a força te reergue
Se o abraço te enche a alma
Se o beijo cala a culpa
Se o Amor te levanta dos escombros
Então, não te esconjures, porque nunca te faltarão!