domingo, 29 de janeiro de 2012

Fantoches de rua e da vida...


Porque todos, um dia, ou de quando em vez, somos patetas! Ou palhaços tristes!? Quiçá, atores de um drama de vida eterno… ou então, nada pior do que isto: o de sermos obra inacabada! Ou tudo, ou nada! Eu prefiro! Do que a terebrante (in)contrução… e a azeda mastigável sensação de estar sempre a “morrer na praia”!

Mas também tem dias, outros dias, e os dias são tantos, que podemos ser coisas diferentes, dia sim, dia não, em que somos loucos fantoches, sem cor, sem alma, deitados numa tumular caixa de sapatos amarelecida, fantoches bonecos sem vida, num teatro(zinho) de rua, até que, uma mão humana, dentro deles, com carinho, mas de forma muito invasiva, pelo que acredito, dolorosa para o, até então, inanimado boneco, lhes entra dentro, e assim, os sentimentos dos fantoches, não são mais do que os sentimentos que nos limpam ou poluem a alma, num determinado momento… e a sua vida é a nossa vida, e por vezes, a vida deles, passa a ser a nossa…ilusão…confusão!

E ali estamos, “performes de cara escondida” atrás de uma caixa de papelão colorida, bonita por fora, por dentro vazia, como (por vezes) a nossa vida, e tudo isto, à espera daquela esmola que tanto precisamos que chegue, e que não tem nada a ver com o som “plim” que se escuta, atrás do teatrinho, e que são essas infames e porcas moedas…haverá algo mais porco do que o dinheiro? Mas, paradoxalmente, tão necessário?

Mas não, não é essa a esmola que eu quero, que muitos de nós, fantoches deste teatrinho colorido e por vezes vazio que é a vida, e enquanto alma, queremos!

Dia após dia, eu, em particular, monto e desmonto o meu teatrinho patético de rua, dia após dia. Os meus braços, cada vez pesam mais, e a estória que antes era breve, dinâmica, alegre, com o tic-tac do tempo, e o “flip-flop” do mudar das folhas no calendário dos dias, dos meses e do ano civil, começa a arrastar-se, e as moedas... vão caindo… cada vez menos, esse som do “plim”, começa a ser cada vez mais espaçado…e o eu, homem-fantoche, já delirantemente cansado, porque ninguém, mas ninguém (porra pá!), me trás a esmola que eu quero…

Cairei eu por terra antes de receber a moeda imaterial que tanto busco?

…o teatrinho de rua já perde a cor, tal como o meu cabelo e os meus olhos, as minhas mãos! Essas, já são mais alvas que a cal que pinta paisagens do “além tejo”.

Já não coordeno, da mesma forma, os movimentos, a estória inicial, cada vez mais se parece com nada, ou um conto arrastado de terror! Os bonecos, os meus fantoches, que não são mais que os meus fantasmas, também envelhecem, já parecem trapos farrapos com cabeça em traços disformes, em decadência, como o teatrinho, como eu…estamos todos a perder a cor, e a esperança!

…mas todos os dias, cada vez mais pedinte, não de um “plim” de moeda, mas de um milagre, “O Milagre”, continuo à espera da esmola que quero, que teimo em querer, mas não vem… esmola que como disse, não é dinheiro, moedas, fortuna… a saber, mas era apenas e só, o amor incondicional de alguém…

Perdoem este fantoche… por não sabe imitar, por abstinência, o som que esse gesto tem!

Dito!




2 comentários:

  1. Este teu "escrito" é decididamente a tua obra prima...bem,realmente tu surpreendes cada vez mais,tens em ti a veia de um poeta e o sentir de um escritor...mas deixas apenas que seja o teu sentir e alma a coordenar as palavras!!E tenho a certeza que quando menos esperares o "milagre" acontecerá...e a humilde "esmola" que tanto anseias chegará para ti :)

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  2. Amigo João Ramos,

    O teatro, ainda que de fantoches, é algo momentâneo, que quando finda ouvem-se aplausos, fecham-se as cortinas e apagam-se as luzes. Volta num outro dia ou num outro local até se extinguir no tempo. Enquanto isso, outros seres, por vezes fantoches da vida real, representam no palco da vida, a outra existência, muitas vezes sem reflexão e brincam aos Deuses, achando que tudo [e a todos] podem fazer porque se acham eternos e intocáveis. Mas, um dia “cabum”, “bum”… caem e tornam-se almas geladas sob o brilho do sol ignorado das suas vidas. Conseguirão erguer-se de novo, ainda que em bases cada vez menos sólidas, mas só se tornaram almas cálidas se em suas mentes e corações habitar os sentimentos mais nobres, a que eu, cumulativamente, chamo de AMOR. E, porque para mim só lhe conheço, até hoje, um rosto, o incondicional, ficção ou não, espero que receba a “esmola” que tanto anseia e que encontre em [si] o som do amor. Julgo que entende estas minhas palavras! Traduzem apenas a minha visão dos “Fantoches da rua e da vida”.

    Não terminarei, no entanto, sem antes de, modestamente, me pronunciar, sobre a beleza deste texto [que julgo ser para si o mais importante!]. Apreço em dizer-lhe que gostei muito do seu texto e que do ponto de vista estético é um texto de um acentuado hibridismo em que o seu “EU” poético assume ora desenvolvimentos de lirismo de enquadramento existencialista, ora projecções distanciadas de forte pendor narrativo consciente da incapacidade objectiva da explicação do propósito de uma vida camuflada à medida que as palavras se vão esgotando e que só a remissão pelo amor, por um amor incondicional, em rigor, atenua, na medida em que, só ele, pode restituir o sentido último das coisas. Muito bom!

    Ósculos e amplexos, BR

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