Não
sou pirómano, mas não escondo que me encanta o fogo, a sua dança, o seu sissibilar…
(não me equivoquei no duplo si)
Não
sou pirómano, mas não escondo que o fogo, de alguma forma me atrai e que, de
alguma forma (perdoem-me esta necessária redundância), o acho, na vida e na
morte, muito semelhante aos restantes seres vivos, que, abrir aspas, se alimentam
do ar, do oxigénio, fechar aspas…
…ele
é humano como nós, sem o ar, sem o oxigénio, morre, ou pelo contrário, vive, cresce,
e o seu crescimento pode tomar proporções assustadoras… este fogo grande e assassino
já não me encanta, este fogo não dança, é um criminoso que ludibria, e não sissibila,
grita assustadoramente, embora, ao ouvi-lo, quando a monte, por baixo ou sobre
as copas das arvores, não sei se o som que escuto, que são sons guturais, são
de um demónio que se orgasmisa com a destruição que
empreende, ou se é a biodiversidade, consumida por ele,
que lança os seus últimos gritos, antes de desfalecer sobre o abafo, morrer por
força das labaredas e por fim, em cinzas se transformar …
Por
isso repito, que de fato não sou pirómano, mas não escondo que me encanta o
fogo, a sua dança, o seu sissibilar… mas não de um fogo descontrolado, solto,
livre, mas sim controlado na sua jaula, como animal que é…uma simples lareira…esta
besta, que me encanta, mas que mata e destrói, até pode servir como “paisagem” romântica…ui…que
requinte…uma pele de Urso polar (sintética, claro) no chão…uma garrafa de Moët
& Chandon e dois copos de cristal Baccarat, o melhor
cristal do mundo, alguns suculentos morangos e um fondue de chocolate, ou
umas natas
irlandesas…e claro a crepitante e sensual lareira…
Assim,
não sei bem por que razão, gosto de brincar com o fogo, literalmente, não no
sentido metafórico que todos sabemos, gosto de brincar sadicamente com esse “lobo
em pele de cordeiro”, que me atrai e repugna, assim, gosto de lhe anunciar a morte…e
chama é chama e toda a chama, penso eu, haverá de ser fogo…e assim coloco uma
vela em cima de uma mesa fria, como uma pedra tumular, acendo a mesma com um desses
instrumento do diabo que é o fosforo, ou isqueiro, tanto faz… ambos, aviso-vos
(em surdina), são o demónio disfarçado, tal como o diabo o tantas vezes faz…. depois,
com um copo, o mais cristalino possível, coloco sobre a vela acesa, e como quem
asfixia um qualquer ser vivo, levanto o copo e dou-lhe esperança a chama ganha
força e vida, sadicamente e lentamente, baixo o copo, e vejo a sua alma a
desaparecer, maldita chama…agoniza, sim, agoniza, pelas vidas inocentes que
ceifaste, pela biodiversidade que destruíste…isso consume todo o ar que o copo
contém….
…
de novo, dou-lhe esperança, um pouco mais de ar, mais alguns segundos de vida,
e por fim…impiedosamente, assisto à sua morte lenta…por fim, nada…apenas um pau
de cera…uma espécie de capsula inocente, usada para dar corpo à chama.
…corro
para lado nenhum, porém, um lado nenhum com água, e atiro, com desprezo, bem
para o meio do ribeiro, a cera inerte, mas porque esse fogo que me encanta, com
a sua dança e o seu sissibilar, mas que é também uma besta assassina, por obra do
diabo, pode renascer sei lá como…até porque me dizem os mais velhos…”o diabo
fez fogo com um pau”, e não vá “o diabo tece-las”, espero que a vela se afunde…e
com ela, muitos dos meus medos, dos meus receios, e aqui sim, dos “muitos fogo
com que eu brinco”, e aqui sim, não no sentido literal, mas metafórico.
Em
conclusão, dei por mim a pensar que a língua portuguesa
é generosa, vejam…
HAVIA
DOR no seu olhar!
Enquanto
que o Barman AVIA DOR em copos de absinto!!!
E
na pista, o AVIADOR, pousa docemente a sua majestosa máquina, o seu avião!
Sim,
eu sei, uma conclusão sem sentido …
PORRA
pá, a ironia é uma das muitas formas ou variantes do destino, seja da vida de
cada um de nós, ou de uma mera reflexão de merda como a minha, mas que eu amo,
porque sendo um filho meu, embora sem jeito e enjeitado, não deixa de ser isso…um
filho (obra, criação, invenção) meu….
Nem tudo tem que ter uma logica pre-defenida...ser logico ou não por vezes depende de varios factores intrinsecos ou extrinsecos á propria logica...mais fantastico um poema ou como tu teimosamente lhe chamas"escrito" ...ehehehehe :D
ResponderEliminarTranscrevi a minha frase favorita deste teu artigo ;)
"uma simples lareira…esta besta, que me encanta, mas que mata e destrói, até pode servir como “paisagem” romântica…ui…que requinte…uma pele de Urso polar (sintética, claro) no chão…uma garrafa de Moët & Chandon e dois copos de cristal Baccarat, o melhor cristal do mundo, alguns suculentos morangos e um fondue de chocolate, ou umas natas irlandesas…e claro a crepitante e sensual lareira… "
genial João, TAMBÉM ADORO O FOGO ,AS LAREIRAS ,OS COPOS BACCARAT , O MOET E CHANDON, OS MORANGOS E O CHOCOLATE ,AI OS MORANGOS MOLHADOS EM CHOCOLATE,DEIXANDO CAIR PINGAS ATÉ A BOCA OS SORVER , É TUDO DUMA SENSUALIDADE, QUE SÓ ME VEJO EM SONHOS, E ESSE JOGO DE PALAVRAS NO FINAL É FABULOSO .PARABÉNS JOÃO RATÃO ,MEU AMIGO QUERIDO!
ResponderEliminarFernanda Cardoso!
ResponderEliminarJoão não sei se sabes mas vou dizer-te.. Acho-te um homem deveras inteligente e muito sensível!
Adoro o que escreves, e chegas a emocionar-me muitas vezes.
A forma como escreves é de uma sensibilidade que toca fundo a alma, consegues transportar-nos para a tua história como se fossemos nós os actores principais, vivendo tudo o que escreves sentindo as emoções enquanto se lê o texto.
Obrigado por mais esta belíssima história que me encantou!
Um enorme e terno abraço da amiga que te quer bem e admira:)