Porque
todos, um dia, ou de quando em vez, somos patetas! Ou palhaços tristes!? Quiçá,
atores de um drama de vida eterno… ou então, nada pior do que isto: o de sermos
obra inacabada! Ou tudo, ou nada! Eu prefiro! Do que a terebrante (in)contrução…
e a azeda mastigável sensação de estar sempre a “morrer na praia”!
Mas
também tem dias, outros dias, e os dias são tantos, que podemos ser coisas
diferentes, dia sim, dia não, em que somos loucos fantoches, sem cor, sem alma,
deitados numa tumular caixa de sapatos amarelecida, fantoches bonecos sem vida,
num teatro(zinho) de rua, até que, uma mão humana, dentro deles, com carinho,
mas de forma muito invasiva, pelo que acredito, dolorosa para o, até então, inanimado
boneco, lhes entra dentro, e assim, os sentimentos dos fantoches, não são mais
do que os sentimentos que nos limpam ou poluem a alma, num determinado momento…
e a sua vida é a nossa vida, e por vezes, a vida deles, passa a ser a nossa…ilusão…confusão!
E ali
estamos, “performes de cara escondida” atrás de uma caixa de papelão colorida,
bonita por fora, por dentro vazia, como (por vezes) a nossa vida, e tudo isto, à
espera daquela esmola que tanto precisamos que chegue, e que não tem nada a ver
com o som “plim” que se escuta, atrás do teatrinho, e que são essas infames e porcas
moedas…haverá algo mais porco do que o dinheiro? Mas, paradoxalmente, tão
necessário?
Mas
não, não é essa a esmola que eu quero, que muitos de nós, fantoches deste
teatrinho colorido e por vezes vazio que é a vida, e enquanto alma, queremos!
Dia
após dia, eu, em particular, monto e desmonto o meu teatrinho patético de rua,
dia após dia. Os meus braços, cada vez pesam mais, e a estória que antes era
breve, dinâmica, alegre, com o tic-tac do tempo, e o “flip-flop” do mudar das
folhas no calendário dos dias, dos meses e do ano civil, começa a arrastar-se,
e as moedas... vão caindo… cada vez menos, esse som do “plim”, começa a ser cada
vez mais espaçado…e o eu, homem-fantoche, já delirantemente cansado, porque ninguém,
mas ninguém (porra pá!), me trás a esmola que eu quero…
Cairei
eu por terra antes de receber a moeda imaterial que tanto busco?
…o
teatrinho de rua já perde a cor, tal como o meu cabelo e os meus olhos, as
minhas mãos! Essas, já são mais alvas que a cal que pinta paisagens do “além tejo”.
Já não
coordeno, da mesma forma, os movimentos, a estória inicial, cada vez mais se
parece com nada, ou um conto arrastado de terror! Os bonecos, os meus
fantoches, que não são mais que os meus fantasmas, também envelhecem, já
parecem trapos farrapos com cabeça em traços disformes, em decadência, como o
teatrinho, como eu…estamos todos a perder a cor, e a esperança!
…mas
todos os dias, cada vez mais pedinte, não de um “plim” de moeda, mas de um
milagre, “O Milagre”, continuo à espera da esmola que quero, que teimo em
querer, mas não vem… esmola que como disse, não é dinheiro, moedas, fortuna… a saber,
mas era apenas e só, o amor incondicional de alguém…
Perdoem
este fantoche… por não sabe imitar, por abstinência, o som que esse gesto tem!
Dito!