sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Não fazemos amor, apenas dançamos

Não, não fazemos amor, apenas dançamos, presumo eu que seja um tango, e assim, quebramos e requebramos. Colamos os corpos, e ainda mais apertamos, não somos brandos.

Todos, sem exceção, em nosso redor, olham-nos, uns ávidos de uma dança assim, outros, roídos de uma inveja muito invejosa, perante a nossa “dança” libertina e viciosa.

Os nossos corpos bamboleiam ao som do compasso ritmado. Eu sinto-te… tu sentes-me. Dançamos? Sei que somos tudo, menos assim tão puros… tão cândidos.

Um amor assim, como o nosso, tão desejado e suado, é e sempre será um clássico, uma “Hérmes” vintage, nunca passa de moda.

 

A música não dá sinais de parar, os viperinos olhares, também não, tal como a nossa erecta e muito húmida paixão. Confuso, pergunto-te: - Isto que dançamos é um tango?

Roças os teus lábios “en rouge” nos meus, semicerras os ébrios olhos e retorques irónica: - “Qu’importa”, até pode ser o malhão ou um Samba de Roda.

A dança não é de todo ortodoxa, não segue uma moda ou sequer tem um padrão, somos apenas dois corpos, apaixonados, num bailado pleno de raiosos desmandos.

As nossas cabeças, carregadas de endorfinas, fazem com que nos vejamos, nos entrecortados espelhos, como dois cisnes, em modo de acasalamento, e embora dancemos torpes, vemo-nos a dançar, nos entrecortados espelhos, de forma graciosa.

 

As gotículas de suor são por ora a nossa fonte de água salgada, tequila improvisada, onde só falta o limão. Ato continuo, ensaiamos novos e desordenados passos de dança, exploramos outras zonas corpóreas… outros meandros.  

Nenhum de nós se cansa ou dá sinais de abrandamento, este amor é assim, cresce e cresce, tem forte fermento, é um tudo ou nada, onde nenhum deita a “toalha ao chão”, nenhum se rende nem se acomoda.

Agora sim, sei que é o Tango que dançamos, a dança dos amantes em casas escuras e salões de reputação duvidosa. Amor em forma de dança embuçada, uma dança a dois, com dois bons circunspectos e disfarçados “malandros”.

- Senhoras, e Senhores, o espetáculo “solo de dança” findou! Respiramos ofegantes, não esperamos pelo resultado ou prémio final, damos as mãos e saímos, de cabeça erguida, certos de querermos mais do que um amor de uma dança só, queremos sim, um amor nosso, dourador, vivido de forma terna, muito apaixonada e exorbitantemente calorosa.

 

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