Triste?
Eu sei! Mas é o que vejo quando me olho por dentro, quando retalho minha alma
(já há muito perdida e vendida), o meu coração!
Faço
a catarse, lá no alto, naquele pico que não existe, a não ser nos meus medos!
Salpico,
o mais que posso, com jasmim e outros odores florais, os pensamentos de ambos
(alma e coração) mas todos eles, por mais que os perfume, saem sempre fétidos! Na
verdade, e em bom rigor, não os deixo sair, é por sua vontade que se expatriam
de mim, em forma de vómito!
Pobres…
mas como os entendo! Fogem, esses pestilentos pensamentos, de um algo mais
negro e podre, do seu progenitor, o meu EU!
Já
me esgoelo, em dor, com nojo de mim próprio!
Aqui,
num desajeitado estado de estar, precisamente neste momento, (des) encontro-me
eu, a sós, com a alma dolorosamente ferida e um coração patético perdido
partido! Tudo isto, insalubremente temperado com o nauseabundo cheiro podre dos
meus próprios pensamentos, agora, jazidos na rocha do promontório em que me
sento e onde já nada sinto, nada penso nem contemplo.
Apenas
olho para o agora! Um agora dentro de mim! Onde só e sempre, vejo tristeza,
vazio, solidão!
Dou por
mim a olhar, e disso dou notícia, de que, a borbulhosa e bolorenta pasta de
pensamentos, por mim, involuntariamente gomitada, queima o chão rochoso onde
caiu…
Lá
no fundo, as águas do Estige e Aqueronte;
a corrente é forte e tem vida, sinto-o, pelo seu angustiante e lancinante ulular.
Quiçá, queixa-se de mim…
Ouço
remar! Há muito que sim, lá no cimo do promontório! Ouço! Escuto!
Anuncia-se um remar, a espaços… como que sinto
um chapinhar de remos, dia e noite, mas não vejo barco nenhum a aportar, no
cais da Lazarenta Imaginação, criado apenas e agora, para esta minha catártica
expiação…
…entristeço-me,
pois a barca que aguardo, é a de Caronte, mais tarde ou mais cedo…porque
não?
Mas
que temes servo de Hades? Filho de Nix (noite)! Meto-te mais medo que que
todos os horrores do mundo inferior?
Atraca
maldito, não sentes que de ti preciso! Contudo, com bilhete para ir e voltar! Infame
barqueiro! Pois te digo que apenas quero, nas margens de lá do Estige
e Aqueronte,
a minha tristeza, vazio e solidão expurgar!
…vem
até mim barqueiro Caronte, anseio-te, e já tardas! Se me levas, eu volto, porque lá,
em terras de Hades, não me quero demorar! Apenas e só, o mais que breve
tempo, para que, como um louco, entre a vida e a morte, rir e chorar, ser o que
sou, despir, tudo largar, morrer, nascer, correr para o cais, e regressar, para
uma nova vida, onde não há tanta tristeza, vazio e solidão…
…por
isso, se me queres de novo vivo no mundo dos vivos, sem medo vem, vem Caronte, vem-me buscar…para que eu,
simbolicamente, morra e nasça, para um novo acordar, e nesse momento, possa de
novo, para dentro de mim olhar…e cujos pensamentos de minh ‘alma e coração, possa de novo, pois puros serão, partilhar…
…sem
medo nem vergonha, daquilo que sou! E o que eu sou, eles são sãos serão…
Que negrume nesse coração, não pode uns olos tão puros e limpidos , ter tanto ecuridão lá no fundo. Solta-te poeta , procura a natureza, olhha o mar aí sorrindo e beijando a areia , olha o sol que tudo ilumina, olha as árvores com assuas pequenasa flores querendo sair e saudar a Primavera antecipada, abre a janela do teu coração amigo , coisaS LINDAS CHEIAS DE COR TE ESPERAM CÁ FORA ,JINHOS
ResponderEliminarOlá João Ramos,
ResponderEliminarEm primeiro lugar, peço-lhe que protele lá essa viagem pelas águas negras e salobras do rio Aqueronte. Não temo pela sua (não) volta, até porque outros heróis já viajaram, na barca do Caronte, até ao mundo inferior e retornaram vivos. Falo, apenas, porque Caronte só transporta vivos com salvo-conduto. Dizem que o passe exigido para a travessia é um ramo em ouro colhido de uma árvore fatídica consagrada a Proserpina!
Sejamos racionais, em tempos de crise como aquela em que vivemos actualmente, um ramo de ouro é um preço muito elevado para uma simples viagem com o fim de regurgitar. Além disso, e por muito encantamento que o João possua, não acredito que o barqueiro dos infernos se deixe enfeitiçar e se submeta a nova punição e exilação, quiçá de novo para as profundezas do Tártaro, caso lhe conceda a tal maldita passagem. Para “rir e chorar, ser o que sou, despir, tudo largar, morrer, nascer“ certamente haverão lugares melhores. Ambos somos conhecedores dessa realidade!
Mais um texto magnífico e reflexivo. É no espelho da nossa alma que conseguimos ver a pessoa responsável pelo nosso destino. Parabéns.
Ósculos e amplexos, BR
Dis-moi pourquoi autant de tristesse?
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