segunda-feira, 5 de março de 2012

Espero-te Caronte, para ir e voltar!




Cerro os meus olhos, dia e noite, e só vejo tristeza, vazio e solidão!

Triste? Eu sei! Mas é o que vejo quando me olho por dentro, quando retalho minha alma (já há muito perdida e vendida), o meu coração!

Faço a catarse, lá no alto, naquele pico que não existe, a não ser nos meus medos!

Salpico, o mais que posso, com jasmim e outros odores florais, os pensamentos de ambos (alma e coração) mas todos eles, por mais que os perfume, saem sempre fétidos! Na verdade, e em bom rigor, não os deixo sair, é por sua vontade que se expatriam de mim, em forma de vómito!

Pobres… mas como os entendo! Fogem, esses pestilentos pensamentos, de um algo mais negro e podre, do seu progenitor, o meu EU!

Já me esgoelo, em dor, com nojo de mim próprio!

Aqui, num desajeitado estado de estar, precisamente neste momento, (des) encontro-me eu, a sós, com a alma dolorosamente ferida e um coração patético perdido partido! Tudo isto, insalubremente temperado com o nauseabundo cheiro podre dos meus próprios pensamentos, agora, jazidos na rocha do promontório em que me sento e onde já nada sinto, nada penso nem contemplo.

Apenas olho para o agora! Um agora dentro de mim! Onde só e sempre, vejo tristeza, vazio, solidão!

Dou por mim a olhar, e disso dou notícia, de que, a borbulhosa e bolorenta pasta de pensamentos, por mim, involuntariamente gomitada, queima o chão rochoso onde caiu…

Lá no fundo, as águas do Estige e Aqueronte; a corrente é forte e tem vida, sinto-o, pelo seu angustiante e lancinante ulular. Quiçá, queixa-se de mim…

Ouço remar! Há muito que sim, lá no cimo do promontório! Ouço! Escuto!

 Anuncia-se um remar, a espaços… como que sinto um chapinhar de remos, dia e noite, mas não vejo barco nenhum a aportar, no cais da Lazarenta Imaginação, criado apenas e agora, para esta minha catártica expiação…

…entristeço-me, pois a barca que aguardo, é a de Caronte, mais tarde ou mais cedo…porque não?

Mas que temes servo de Hades? Filho de Nix (noite)! Meto-te mais medo que que todos os horrores do mundo inferior?

Atraca maldito, não sentes que de ti preciso! Contudo, com bilhete para ir e voltar! Infame barqueiro! Pois te digo que apenas quero, nas margens de lá do Estige e Aqueronte, a minha tristeza, vazio e solidão expurgar!

…vem até mim barqueiro Caronte, anseio-te, e já tardas! Se me levas, eu volto, porque lá, em terras de Hades, não me quero demorar! Apenas e só, o mais que breve tempo, para que, como um louco, entre a vida e a morte, rir e chorar, ser o que sou, despir, tudo largar, morrer, nascer, correr para o cais, e regressar, para uma nova vida, onde não há tanta tristeza, vazio e solidão…

…por isso, se me queres de novo vivo no mundo dos vivos, sem medo vem, vem Caronte, vem-me buscar…para que eu, simbolicamente, morra e nasça, para um novo acordar, e nesse momento, possa de novo, para dentro de mim olhar…e cujos pensamentos de minh ‘alma e coração,  possa de novo, pois puros serão, partilhar…

…sem medo nem vergonha, daquilo que sou! E o que eu sou, eles são sãos serão…

3 comentários:

  1. Que negrume nesse coração, não pode uns olos tão puros e limpidos , ter tanto ecuridão lá no fundo. Solta-te poeta , procura a natureza, olhha o mar aí sorrindo e beijando a areia , olha o sol que tudo ilumina, olha as árvores com assuas pequenasa flores querendo sair e saudar a Primavera antecipada, abre a janela do teu coração amigo , coisaS LINDAS CHEIAS DE COR TE ESPERAM CÁ FORA ,JINHOS

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  2. Olá João Ramos,

    Em primeiro lugar, peço-lhe que protele lá essa viagem pelas águas negras e salobras do rio Aqueronte. Não temo pela sua (não) volta, até porque outros heróis já viajaram, na barca do Caronte, até ao mundo inferior e retornaram vivos. Falo, apenas, porque Caronte só transporta vivos com salvo-conduto. Dizem que o passe exigido para a travessia é um ramo em ouro colhido de uma árvore fatídica consagrada a Proserpina!

    Sejamos racionais, em tempos de crise como aquela em que vivemos actualmente, um ramo de ouro é um preço muito elevado para uma simples viagem com o fim de regurgitar. Além disso, e por muito encantamento que o João possua, não acredito que o barqueiro dos infernos se deixe enfeitiçar e se submeta a nova punição e exilação, quiçá de novo para as profundezas do Tártaro, caso lhe conceda a tal maldita passagem. Para “rir e chorar, ser o que sou, despir, tudo largar, morrer, nascer“ certamente haverão lugares melhores. Ambos somos conhecedores dessa realidade!

    Mais um texto magnífico e reflexivo. É no espelho da nossa alma que conseguimos ver a pessoa responsável pelo nosso destino. Parabéns.

    Ósculos e amplexos, BR

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  3. Dis-moi pourquoi autant de tristesse?

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