Não são as minhas nem as tuas lágrimas que importam,
mas sim, a razão das mesmas brotarem em nós, de nós e por nós, incessantemente,
dos nossos olhos…
...mas como que congeladas, paradas…
… lágrimas estas que jorram em jeito de monção, e se
quedam, ora turvadas, ora cintilantes, no beirado dos nossos lábios … tudo, num
misto de euforia, de alegria pura, mas
também dura, de uma realidade sentida e vivida… com enorme dor, talhada…
cinzelada com comoção!
Estamos firmemente agarrados, amarrados, colados um
ao outro… num hercúleo, do Olimpo, abraço … num desejado nó que não se desfaz.
Tão próximos estamos, que sendo dois, apenas sentimos
um, e apenas um coração a bater… pum
pum… dois em um… pum pum… dois em um… e duas palavras ecoam nas nossas cabeças…
verde esperança… pum pum… verde
esperança… pum pum… verde esperança…
… e porque quem espera, se umas vezes desespera, por
vezes também alcança… pum pum… verde esperança…
...tem dias, contudo, que este bater, também magoa,
também rasga e cansa…
… tentando não desfazer o beirado dos nossos lábios,
que se encontra transformado em Pia
Sagrada de água salgada, de soslaio… olhamo-nos… o abraço continua firme, e o
nó, de ontem para hoje apertara mais.
Creio que se dele nos quisermos desprender… (do nó)
mas não o queremos fazer, assim nascemos, assim haveremos de morrer… mais ele
nos vai prender...
… sem pensar, pensamos que não escolhemos este
amor! Sim, de facto não escolhemos assim
um amor eterno, colado calado, que veio do nada, como que um amor “sem eira nem
beira”…
PAUSA!
… fim urgente de pensamento e citação…
quietos...ambos!
… subitamente, mas não inesperadamente, depois de um
ranger de porta, de um abrir vigoroso de umas portadas, entra uma luz
ofuscante, revela-se a nossa nudez…
…. olha-nos um homem! O tal homem! O mesmo homenzinho
de sempre! De todas as manhãs.
Traja de avental, carrega maço e escopro na mão, e
olha-nos, com ar de parvo génio, como se fosse a primeira vez…
… adormecemos então para a fantasia, e acordamos para
a realidade, não somos mais que duas figuras numa só estátua, que supostamente
representa o amor… eu e tu, duas figuras numa só, talhadas num pedaço
monolítica de mármore, carregada de uma qualquer pedreira…
… frias por dentro e por fora… (penso)…sim? Não? Não sei,
enquanto ajeito o avental, mas pergunto-me, enquanto pai, criador e escultor: -
será que as estátuas também amam?
Não encontro resposta… eu sinto… e elas? Não sei, e é
essa a minha dor!