Encontro-me,
solitariamente bem desacompanhado, no mais barroco zingamocho do último acto de
uma teatral morte, que para uns é algo de belo, a “tesão” sentida e vivida de
ver alguém soltar o seu postremo suspiro.
Para
outros dos presentes, porém, é assistir ao medonho, ao grotesco, ao inaceitável,
a um espectáculo… um espectáculo proibido, mas onde, na clandestinidade
burlesca da arte, onde o já mais do que morto actor, mas por ora vivo, deu o
seu consentimento!
Batem fortes
as pancadas de Molière, “fooortessss” e prolongadas no seu “ecoooo”, mas mais
forte bate o meu/seu coração, não sei se de medo? Ou se de excitação?
Em
palco, A Nudez Da Alma Humana!
É
teatro, mas é também, em directo e ao vivo, a morte de uma vida viva!
A
Nudez Da Alma Humana, em palco, é a única personagem, que pela história e a
falsa moral é aceite, e pelos presentes, permitida!
Aproxima-se
o Helénico Clímax, divergente nas suas sensações!
A
morte em palco, da Nudez Da Alma Humana, causa, entre o bem-querido público,
calor nuns e noutros frios, estômagos encapelados e intestinos flatulentos, e
das suas bocas, cheiros velhos e bafios, tal como a sala, com os seus mil e um objectos
não ligados, um mar de contradições!
No
palco do escondido e velho teatro, repito, apenas a Nudez Da Alma Humana!
Uma
alma antes baptizada, mas no presente sem nome! Indigente, no limbo, no nada, volateia,
flutua…
Uma
alma indefinida, que tanto pode ser a alma de ninguém, daquele outro ali, a
minha, ou a TUA!
“Aegrotus
animus! Absens corpore!” (Mente doente! Corpo Ausente!),exposto despido para o
acto final!
A figura
distante, em palco, da Nudez Da Alma Humana, lega uma visão, aos olhos dos pagantes
“voyeurs”, uma visão débil, muito débil e desapartada deles próprios: (le présentateur) - e turva, senhores e senhoras….,
oculta por uma mágica névoa de Paúl, apenas e em especial para si, para cada um
de vós, desse lado, bem longe da tragédia que se dará aqui!
Pré-epílogo….
le présentateur: por uma simples razão, todos querem
ver, em palco, a morte da Nudez Da Alma Humana, mas não se querem aperceber, de
todo, se a Alma Humana que em palco morre, e a de cada um dos presentes! A
minha! Ou a tua!
No
palco, a Nudez Da Alma Humana…
… passaram-se
segundos do fim das pancadas de Molière, a luz baixou até ao ilusório, a par de
uma mágica névoa de Paul, o silêncio tomou conta da sala… o ranger da corda, um
corpo a balançar, não fala, não grita, não pede ajuda, um artista da morte tem
de fazer o que tem de fazer, mas de boca amordaçada claro está, para o caso de
ter a veleidade de se arrepender…
…pára
por fim o balouçar, ensurdece-nos um silêncio alegremente sepulcral, os olhos
esbugalhados espreitam por entre a névoa, à procura da confirmação, corta-se a
corda que suspende a Nudez Da Alma Humana … cai um corpo, em estrondo seco, no
chão, bem como o pano do velho palco… alguém grita: “il est mort! Décédé!
Pleurer, rire ou chanter!” (É morta! Morreu! Chorai, ri ou cantai!)
… o público
ergue-se, ouve-se aqui e além: - que bela morte! Para outros, uma aberração, mas
a verdade é que a sala em pé grita, canta e ouve-se, por fim, uma grande
ovação!
EXCELENTE!
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