Como que pecador, sem redenção, à espera do teu último acto
de amor, o perdão! Mas não é isso que procuro, quem sabe, não busco o
contrário? O saboroso e delicioso gosto do castigo, punição, amor paixão forte,
profunda entrega…enfim, tesão…
Tu permaneces imóvel, parece-me, do fraco angulo que te vislumbro,
que o teu rosto é moldado por uma sagrada cera de abelha…pois tens a tez num
misto de amarelo dourado…
… apenas te cobre um branco véu, que esconde, num só
caminho, as tuas generosas ancas, dois lugares: uma descida aos infernos, portanto…pura
paixão! E uma vertiginosa Ascensão, por ser sagrada, aos céus, portanto… puro Amor!
…para onde quero eu viajar? Não sei!? Tem dias! E hoje não sei que dia é, embora, deleitar-me-ia que este dia, e todos os restantes dias da minha sublime vida de servo teu, fossem vividos em permanente viagem entre o céu e o inferno, entre a paixão e a tesão, entre a ternura e a libidinosa dor…
E ali está, e ali permanece, por vontade própria, O MEU EU,
sentado e prostrado aos teus pés, vestido apenas com uma pelicula de suor
másculo e intenso, inebriante… de tal forma que as muitas abelhas da tua corte
zumbem de prazer…não as vejo, mas consigo escuta-las, sei que algumas…muitas…buscam
no seu íntimo, o íntimo prazer, mas tu…tu não, tu continuas superior, envolta
no teu véu, com esse rosto de estatua de cera, não de uma cera qualquer, mas
sim de uma sagrada cera de abelha… exclusiva de uma rainha!
…lá fora Roma arde, e consigo escutar o louco harpear do teu
amante de monetária conveniência…Nero, esse louco…
…dentro de mim, apenas penso que faz todo o sentido que
Roma, cidade das grandes orgias e bacanais arda, pois para mim Roma é e sempre
foi o anagrama de Amor, que é o que sinto por ti, no meu peito cidade, que são
as artérias do meu coração…Roma...Amor!
O priapismo há muito que toma conta de mim… - um desperdício!
Traduzo eu do zumbido das tuas camareiras bacantes, mas tu permaneces imóvel, “castigante”, nada te consigo ler, e não
é porque esteja sentado e prostrado aos teus pés, apenas e só porque permaneces
morbidamente imóvel, fria na expressão do rosto, mas quente na derme…
…Roma arde lá fora, o Amor, esse arde em mim, bem cá dentro,
bem lá no fundo…
… e de repente, sem que nada o fizesse prever, quando menos
espero…e quando o zunido loucamente enlouquecido das tuas abelhas camareiras
bacantes aumenta de forma ardentemente assustadora, estremeces, o teu rosto de
cera ganha outras expressões, colocas a tua mão sobre o teu colo e soltas um –ai
que morro! Profundo! São apenas breves segundos… mas intensos!
Por delicadeza, presumo eu, deixa que o teu véu toque
levemente o meu íntimo... que em nano segundos solta a sua profícua e fecunda carga…que
contudo, não apaga o fogo que consume Roma, nem tão pouco abranda o febril
ardor no meu coração… Amor…
… algures no seu palácio, Nero, o Incendiário, continua a
harpear… e Roma a arder… as famintas labaredas tomam contas dos nossos aposentos,
as abelhas camareiras soltam zumbidos de morte, é tão somente dilacerante para
mim escuta-las, mas nem eu, nem tu, minha Rainha, nos movemos, e acabamos
tomados pelo lânguido fogo… e temos uma segunda morte…agora, nos braços de
Morfeu…
DIVINO
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