E confesso, o meu espaço infinito, o
céu por cima da minha cabeça é, por estes dias, o teto do meu asséptico hospitalar quarto, teto este que à noite, com os resquícios da pouca luz
existente, ganha vida, e dele, desse céu de placa de cimento armado feito, que
por agora me cobre e protege, de olhar para ele nunca me canso ou farto.
E hoje está muito peculiar. Vejam o
que eu penso que vi quando o estava a contemplar…
Vi a forma de uma Cavalo Marinho,
sem pôr nem tirar, e nas suas costas, a forma “ampliaumentada” do que me
parecia ser uma Pulga, sorri para mim, abrenúncio, coisa estranha e tão
bizarra, à moda de Gil Vicente… de ficar boquiaberto… de soltar um: - Olha…! ou
um: - Acudam, o fim do mundo em forma de pulga, está para chegar.
Olhando mais acima, um saco de soro parecia
ter a forma de um estandarte rusticamente medieval, e o outro saco, com não sei
bem o quê, por baixo do estandarte, tinha a forma de um estomago, e um
inusitado apêndice… e o cabo enrolado, que vinha dos sacos, em reflexo, parecia
que saia do estomago e aparentava, “trigo limpo farinha amparo”, ser o duodeno,
o intestino grosso e o delgado…
Com tudo isto, o sono começou a
tomar, bem de mansinho, conta de mim… se outras formas no céu do meu asséptico hospitalar quarto houve… não as sei descrever, pois, entretanto, acabei por me
render ao cair das pálpebras, e simplesmente adormeci…