terça-feira, 6 de abril de 2021

O céu do meu asséptico hospitalar quarto

As sombras projetadas no teto do meu asséptico hospitalar quarto são de uma leitura subjetiva, como é subjetiva a leitura das diferentes nuvens, quando as olhamos lá bem alto, majestosas no céu.

E confesso, o meu espaço infinito, o céu por cima da minha cabeça é, por estes dias, o teto do meu asséptico hospitalar quarto, teto este que à noite, com os resquícios da pouca luz existente, ganha vida, e dele, desse céu de placa de cimento armado feito, que por agora me cobre e protege, de olhar para ele nunca me canso ou farto.

E hoje está muito peculiar. Vejam o que eu penso que vi quando o estava a contemplar…

Vi a forma de uma Cavalo Marinho, sem pôr nem tirar, e nas suas costas, a forma “ampliaumentada” do que me parecia ser uma Pulga, sorri para mim, abrenúncio, coisa estranha e tão bizarra, à moda de Gil Vicente… de ficar boquiaberto… de soltar um: - Olha…! ou um: - Acudam, o fim do mundo em forma de pulga, está para chegar.

Olhando mais acima, um saco de soro parecia ter a forma de um estandarte rusticamente medieval, e o outro saco, com não sei bem o quê, por baixo do estandarte, tinha a forma de um estomago, e um inusitado apêndice… e o cabo enrolado, que vinha dos sacos, em reflexo, parecia que saia do estomago e aparentava, “trigo limpo farinha amparo”, ser o duodeno, o intestino grosso e o delgado…

Com tudo isto, o sono começou a tomar, bem de mansinho, conta de mim… se outras formas no céu do meu asséptico hospitalar quarto houve… não as sei descrever, pois, entretanto, acabei por me render ao cair das pálpebras, e simplesmente adormeci…

Escrevo como quem escreve

Escrevo como quem escreve na areia à beira mar, com a esperança de que as palavras na areia escritas,
uma qualquer onda, vinda de súbito,  as possa apagar.

Escrevo como quem escreve nas estrelas do firmamento, com a esperança de que as palavras   nas estrelas escritas, um qualquer astronauta, desligue o constelar quadro da luz, e as possa apagar.

Escrevo como quem escreve em uma e outra folha de papel, com a esperança de que as palavras escritas nas escassas folhas e que deram à luz um Livro, um qualquer “Homem Mau”, numa fogueira, no meio de uma purga literária, as possa queimar, e assim, para sempre as apagar.

Escrevo, por fim, na tua “alma’coração”, com a esperança de que as palavras escritas nesse sacrossanto lugar, nenhuma onda de nenhum mar, nenhum astronauta, nem nenhum “homem Mau”, as possa, jamais e em tempo algum apagar.

Amo-te