De
Dentro de mim, 17 de dezembro de 1914
A
vida
Cá
estou meu amor, sempre e só no mesmo lugar… os dias são a cópia exata do dia
anterior, e as noites também! Quer dizer, com raras exceções…
…está
tudo calmo, aproveito o pouco que ainda há de vela… que é simetricamente igual
ao que esta noite, neste abrigo, haverá de luz….
…a
tua foto está a ficar esbatida, são as humidades deste buraco, ou então, da
transpiração quando empunho a arma e corro, corro para a vida, semeando à minha
frente a morte….
Sabes
meu amor!
Pôs-me
a pensar se tu, ai, em casa, no nosso lar, que por agora é o teu e meu coração,
consegues imaginar o que seria a minha vida sem ti!?
E
como seria a minha vida antes de ti?
É
claro que este é um pensamento que me assola apenas e só desde que te conheço…
…
tenho a noção que o meu antes, era o de alguém que caminha de forma sistemática,
constante, mas sem rumo… perdido!? Não sei!?
Tu
sabes bem, meu amor, de que o sentido da vida é por certo do mais difícil de
definir. A vida é tudo e, em contraponto pode ser nada!
Há
coisas que tiram o significado à vida, e outras, meu amor, que é o próprio
significado de viver a vida!
A
chama, não da vida, mas da vela, começa a extinguir-se, tenho de ser breve,
quero que esta missiva parta até ti amanhã….
Assim
eu pergunto: e tu? O que serás?
Pois
te digo que se a vida é ar, tu és então o ar que respiro!
Se a
vida é luz, tu és o sol que me guia!
Se a
vida é amor, tu serás o amor em si, para mim!
Mas
se a vida, como dizem por ai, é Deus, então, de forma séria e solene,
ajoelho-me perante ti, porque então tu és o meu Deus! Logo, uma razão mais do
que legitima para amar e viver, com intensidade, a vida, esta nossa, minha e
tua vida!
Antes
que se apague de vez a vela que esta noite não vela…
Um
beijo, deste sempre teu, numa trincheira qualquer.
Amo-te